domingo, 8 de fevereiro de 2015

Mal me deixas falar contigo por isso decidi escrever-te, embora tenha noção que não vais ler estas palavras.
És o meu irmão. És o meu oposto. Em tudo. Este ano fazes 16 anos.
Deixa-me voltar atrás no tempo, por favor.
Sabes que ainda me lembro de quando te ia buscar á creche, depois á escola primária, e juntos apanhavamos o autocarro de regresso a casa. Nessa altura, eu sonhava em ser educadora de infância ou jornalista. Na escola, era a croma da minha turma, estudava todos os dias. Estudar a sério, não como tu "estudas".
Precisava de estudar para alcançar um dos meus sonhos. No entretanto, aproximava-se a (minha) época de exames nacionais e eu estava totalmente focada naquilo até que tudo caíu sobre mim. Tudo ruíu, como tu sabes. O que não sabes, é que mesmo com o meu mundo destruido, eu só pensava nos meus exames. Não estudei para nenhum. Não consegui. E sempre que fazia algum, acabava a chorar. Sim, eu chorei, "forte e feio", na escola onde tu andas. Chorei á frente de todos. E agora? Os meus sonhos para chegar a ser jornalista? Foram-se com o vento. Com a doença. Com a minha doença rara. Sabes qual foi, até agora, o dia mais triste da minha vida? Foi o dia em que me vi obrigada a sair da escola porque tinha-se tornado impossível conciliar os estudos com a luta pela minha vida. Doeu horrores. Mais tarde, num acto egoísta, custou tanto ver as minhas amigas entrarem na faculdade. Porra, eu queria tanto viver tudo aquilo que elas estavam a viver, a sentir. No entanto, tenho de ser realista e assumir que a minha realidade é outra. A minha faculdade é outra.
Achas que escolhi viver assim? Achas que alguma vez desejei tudo isto? Acreditas mesmo que não quero trabalhar?
Puto, se pudesse e acredita em mim, eu já estava a trabalhar e fora deste País.
Nem tu, nem ninguém, fazem ideia de como me sinto.
Queres ter uma noção disso? Eu digo-te. Sinto-me inútil, triste, ignorante, um empecilho para os pais. Sinto-me um fracasso.
R., tu tens de parar ser como és. O Mundo não é teu. Não és dono dele. Tens de parar de ser alguém que só se importa com o cabelo, futebol e amigos. Com isso não vais chegar a lado nenhum. Garanto-te. Não queiras sentir-te como eu me sinto. Acorda para a vida. Os pais só querem o melhor para ti e a bem da verdade, és um sortudo. Porque as oportunidades que tu podes vir a ter, nem eu, nem os pais as tivemos. Tu não queres ver, estás pelo cego de estupidez mas isso não é desculpa para estragares a tua vida. Caraças, tu devias de dar graças pelo que tens!
Um dia, e isto vai mesmo acontecer, vais querer voltar atrás no tempo e aí não podes fazer nada.
Se soubesses destas palavras irias acha-las uma seca.
Já eu acho que é amor.
posted from Bloggeroid

2 comentários:

  1. Como é complicada a adolescência... Que merd*.
    Ele quando perceber pode ser tarde... Conversa com ele.

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  2. podes tentar dizer-lhas, e ele até pode perceber que é amor... (achas que não?)
    Um beijo Maria ;)

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