É díficil ser surda, ter uma paralisía facial que não me deixa argumentar como quero. É díficil, sim. E por muito tempo que passe,  creio que nem a minha própria família vai saber como lidar com alguém que não ouve. Alguém que precisa que falem devagar para entender o que dizem. Alguém que precisa de ler os lábios quem fala. Não pensem que ler os lábios é fácil porque não é.  Ninguém me ensinou leitura labial. Aprendi sozinha, por necessidade. Engoli muitos "sapos"  da minha própria família. Principalmente do meu irmão. Os adolescentes conseguem ser (muito) maldosos e injustos. Hoje cheguei ao meu limite e chorei grande parte da tarde. Não tendo lágrimas desde os 18, chorar é soluçar, cerrar os punhos, respirar
de forma ofegante, sentir o meu corpo dormente. O meu choro provoca consequências dolorosas. As dores. Sem esquecer a dor na alma.
Não tenho de ser sempre forte porque apesar de tudo e das minhas limitações,  sou humana. Admito, não é fácil.

Quanto a ti: não tive a oportunidade de ser adolescente mas sobrevivi  a  muitas maldades de miúdos que se achavam donos do Mundo só porque eles julgavam ter um estatuto, uma reputação a manter. Quando deviam era de estudar para subir aquelas notas miseravéis e evitar outro chumbo de ano.
Com a tua idade, 15 anos, já eu tinha passado por muito na minha vida. És um privilegiado e o pior é que não tens,  ou não queres ter, noção disso.  Posso ser diferente, ter limitações mas não sou menos que tu. Digo-te aquilo que não vais aprender na escola mas que tu já devias saber: a saúde é uma benção. A única que merece respeito. Se ela acabar, tudo falha.